
Na última semana, em meio a tantas publicações que bombaram no Twitter, uma me chamou a atenção. Nela, o pesquisador e professor Marco Rapeli destrinchava toda a história de um dos estabelecimentos mais famosos de São Paulo, o ‘Bar & Lanches’ de cada esquina.
Ele começa explicando que, aqui em SP, há esse tipo de estabelecimento bastante conhecido e que molda a maneira com que a gastronomia circula no meio real da cidade.
Mas o que é isso, de onde vem e por que estão em todos os lugares? Se você também sempre se perguntou por que todos os bairros da cidade possuem esse misto de padaria, restaurante e bar, vem descobrir.
Ao continuar sua pesquisa, Rapeli explica que não há um tamanho definido, “podem ser grandes ou minúsculos, mas é certeza que você vai preferir sentar na calçada ou balcão”. Além disso, a decoração segue uma espécie de padrão entre eles.
Balcão de granito, piso frio mais claro, mesas e cadeiras de madeira, painéis com fotos genéricas de pratos e algumas frases em luminosos”
Os nomes também seguem uma regra: Flor da rua x, Estrela do bairro y, Joia da praça z.
Como o pesquisador explica, os nomes estão conectados ao lugar de origem por uma razão:
São Paulo tem tradição de restaurantes, cafés e cantinas tradicionais, que surgiram (e muitos duram até hoje) no começo do século passado. Entre as décadas de 10 e 60, com o mundo em guerras, imigrações em massa e SP capital recebeu 60% dos imigrantes do Brasil todo. Em alguns bairros, a população de não-migrantes era significativamente menor que a de estrangeiros. Restaurantes árabes, portugueses, espanhóis e italianos surgiram demais nessa época.
Para encontrar a origem dos atuais estabelecimentos, Marco Rapeli recorreu à tese de doutorado de João Luiz Máximo da Silva, de 2008:
Tá, então podemos chamar de botequins. E isso responde a primeira pergunta e tb a segunda, mas afinal pq estão *em toda a parte*?”
Segundo ele, a resposta está em (pelo menos) dois pontos importantes:
A primeira, sobre a ótica social de São Paulo e como e porquê a cidade é como é … A segunda vertente, um pouco mais abstrata mas que ajuda a explicar, é a Indústria Cultural e a maneira pela qual ela, segundo Walter Benjamin, reproduz incansavelmente inclusive obras de arte e produtos que, antes, não eram passíveis de reprodução e comercialização”
Para definir o primeiro, Marco explica que a partir da década de 1970, a cidade começa a migrar para as periferias. Na década seguinte, as periferias aumentam ainda mais com a migração de pessoas vindas de outros estados do Brasil.
Mas como sabemos, ainda hoje, boa parte da oferta de serviços da capital é realizada por quem mora nesses bairros.
Limpeza, segurança, portaria, manutenções, construção civil e tantas outras mobilidades de serviço que a gente usa DEMAIS todo dia são feitas por gente que não mora no mesmo bairro”
Já para explicar o segundo ponto, sobre a Indústria Cultural, Rapeli usa o exemplo carioca:
As franquias de botequins no RJ (institucionalizado no Belmonte) vieram para tornar “viável” e escalável o modelo comercial dos botecos – que, agora com menu, uniforme, menu e porções convencionadas, horários de funcionamento e padrão na comunicação, surfam na cultura dos botequins mesmo nos dias de hoje – usando do hype e da cultura difundida pelos intelectuais e classes artísticas dos anos 90 pra cá (já que antes era desprezado, visto como um lugar de alcoólatras e outros rótulos não quistos)
É isso! Da próxima vez que escolherem almoçar em alguma Estrela, Joia ou Flor de alguma rua, sintam-se endossando um aspecto bem forte da cultura e da história comercial de SP e também parte de um movimento feito por e para trabalhadores dessa cidade.
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