Fachadas recortadas, curvas e cores fortes em um prédio residencial; se há uma coisa que Jurado sempre soube fazer, foi atrair todos os olhares às suas construções.
Se você é daqueles paulistanos que anda a olhar para cada um dos prédios que preenchem os postais da cidade, esse artigo é para você. Alguns prédios da cidade estão na nossa memória desde cedo. O empresário Artacho Jurado foi o responsável por criar alguns desses exemplos.
Filho de pai anarquista, Jurado abandonou os estudos ainda no primário para não ter de jurar à bandeira. Apesar da mágoa que levou do pai por não ter podido continuar a estudar, se tornou um “arquiteto” autodidata e um dos maiores empresários paulistas entre as décadas de 1940 e 1950.
O fato de não ter diploma de curso superior em arquitetura ou engenharia impediu que Jurado se tornasse autor legal de seus próprios projetos. Isso trouxe, inclusive, brigas com profissionais que não concordavam com o seu estilo e sucesso, ainda mais por se tratar de alguém sem estudo formal.
O arquiteto Ruy Eduardo Debs Franco, autor do livro “Artacho Jurado – Arquitetura Proibida” explica que Artacho
Foi acusado de “mau gosto” por seus detratores (devido à influência nos seus projetos do glamour Hollywoodiano e da abundância cromática dos seus acabamentos e ornamentos).
Mas isso não impediu que se tornassem reconhecido pela sua obra. Sua veia anarquista permanecia até nisso.
Suas obras foram inovadoras ao misturar estilos e apostar no exagero como forma de decoração. Além disso, ele foi um dos primeiros a pensar em áreas comuns de lazer dentro dos condomínios. Artacho inventou o que chamava de “O Estilo do Bem Morar”, combinando tudo o que já oferecia em suas construções a uma sacada de marketing que atingiu em cheio o imaginário de uma classe média em ascensão.
Sua obra nada ortodoxa e dirigida diretamente ao mercado persiste até hoje e, se um dia foi desprezada por alguns, atualmente é cultuada por outros. O “não-arquiteto” se tornou um dos personagens mais polêmicos da arquitetura paulista, porém, segue chamando a atenção até os dias de hoje.
A construção de Artacho Jurado
O estilo de Artacho Jurado chegou a ser resumido em uma palavra: kitsch – a expressão alemã, na decoração e arquitetura, refere-se a quebra de todas as regras. A palavra aponta o jeito original que mistura os mais variados estilos e épocas em um só espaço.
Os prédios de Jurado são a perfeita mistura do modernismo, art nouveau, o déco e o clássico. Suas construções apresentam varandas cheias de arabescos; arcos e ogivas; marquises enormes e muita cor. É impossível passar indiferente por um Artacho Jurado em meio à uma São Paulo cinzenta e quase sempre igual.
Conheça alguns dos seus edifícios mais famosos da cidade
Bretagne
Este foi o edifício que deu mais fama ao construtor João Artacho Jurado na década de 1950. Localizado no bairro de Higienópolis, foi um dos primeiros a trazer o lazer e piscinas para dentro dos condomínios.
Cinderela
O queridinho dos fãs de Jurado, por conta do seu famoso salão de festas. O espaço, localizado no topo do edifício, oferece ainda um amplo jardim que pode ser utilizado por todos os condôminos.
Planalto
Um símbolo da arquitetura colorida de Artacho Jurado. Quem nunca se pegou observando as varandas do edifício, enquanto caminhava pela República?
Saint Honore
O edifício foi um dos marcos da verticalização da Avenida Paulista, na década de 1950. É impossível passar indiferente pelo seu formato em L e seus jardins.
Piauí
Foi o primeiro projeto de Artacho Jurado a contar com o térreo livre . O piso fora destinado à área comum dos moradores, o que era inovador naquela época.
Viadutos
Foi o primeiro a misturar os estilos moderno, nouveau, déco e clássico. Além disso, na altura teve um diferencial de marketing – que era a marca registrada de Jurado – os custos de condomínio eram menores graças a um grande letreiro que havia no topo do prédio.
Parque das Hortênsias
Localizado na Avenida Angélica, esse edifício faz parte do mesmo lote do edifício Apracs. Ambos foram projetados por Artacho, porém, durante a construção a empresa teve de vender parte do terreno por problemas financeiros.
Louvre
O último grande projeto de Artacho Jurado na cidade de São Paulo. Cinco prédios se unem ao Edifício Pedro Américo. Com um prédio gigantesco, que unia comércio e residência, Artacho deixou a sua marca na cidade.
Se você gostou da história do “não-arquiteto”, há um documentário, baseado no livro “Artacho Jurado – Arquitetura Proibida” (mencionado durante o artigo), que foi realizado sob o patrocínio da Fundação Gilberto Salvador juntamente com o CAU-SP em 2016/17.
Durante oito episódios, de cerca de 7 minutos, especialistas debatem a importância do empresário na arquitetura da São Paulo como a conhecemos. Você pode assistir ao documentário completo no Youtube, além de baixar e assistir à vontade aqui.
Assista ao primeiro episódio
Foto de capa: @Imagens Portal SESCSP/Flickr