No Patagônia, as nuvens costumam dominar o céu. Mas, este ano, os padrões climáticos permitiram uma visão limpa e rara da Patagônia no inverno.
Em 26 de junho, quando o Espectrorradiômetro de Imagem de Resolução Moderada (MODIS), do satélite Aqua da NASA, fez essas imagens, o céu estava limpo em quase toda a Patagônia. Um fato raro na região que abrange mais de 1 milhão de quilômetros quadrados do extremo sul da América do Sul. A cobertura de neve é visível desde as encostas ocidentais da Cordilheira dos Andes, no Chile, até as planícies costeiras da Argentina.
Segundo René Garreaud, professor da Universidade do Chile, é incomum ver uma área tão livre de nuvens na Patagônia.
A última vez que vi uma imagem completamente clara foi em fevereiro de 2019
Naquela época, durante o verão do Hemisfério Sul, as quentes temperaturas sazonais significavam que a neve e o gelo se limitavam principalmente à espinha dos Andes e aos campos de gelo da Patagônia.
A região é geralmente nublada em imagens de satélite devido à ocorrência de tempestades durante o ano todo. A ponta sul do continente mergulha em uma faixa de ventos predominantes no oeste, ao longo da qual os sistemas de alta e baixa pressão constantemente flutuam para leste. O terreno também aumenta a nebulosidade da região: quando os ventos encontram os Andes, o ar úmido que sopra do Oceano Pacífico é forçado para cima, onde esfria e se condensa em nuvens.
Em junho, um sistema de alta pressão se estabeleceu sobre a Passagem de Drake – via navegável ao sul do continente – e deixou o céu limpo na região mais ampla da Patagônia. O sistema meteorológico ficou parado por quase uma semana e provocou a ocorrência do fenômeno conhecido como “bloqueio alto”, que impede o movimento típico das massas de ar. Nesse caso, ventos de oeste foram forçados a fazer um desvio.
O “surto” de ar gelado, no entanto, não foi suficiente para congelar os lagos profundos a leste do campo de gelo (imagem acima). “Mesmo no inverno, as temperaturas do ar na superfície geralmente são superiores a 0°C”, afirma Garreaud. “Portanto, o evento frio foi intenso, mas não o suficiente para congelar esses lagos”. Com isso, a cor turquesa dos lagos – resultado da “farinha glacial” – contrasta ainda mais com a neve branca ao seu redor.
Este texto é uma tradução e adaptação de conteúdo publicado pelo Earth Observatory/NASA.