No dia 31 de março, o Brasil lembrou os 60 anos do golpe militar. Neste contexto, o Instituto Moreira Salles (IMS-SP) realiza a exposição ‘Que país é este? A câmera de Jorge Bodanzky durante a ditadura brasileira, 1964-1985’, que reúne um extenso acervo audiovisual do artista, produzido durante a ditadura.
Dentre filmes, fotografias e outros materias, as obras de Bodanzky retratam sobretudo o Norte e o Nordeste, escancarando a violência nas áreas rurais e a destruição do meio ambiente sofridas em razão das políticas desenvolvimentistas do período.
A exposição segue em cartaz até 28 de julho, no IMS Paulista (Avenida Paulista, 2424 – Bela Vista). A visita é gratuita e ocorre de terça a domingo, das 10h às 20h. Fique por dentro!
‘Que país é este? A câmera de Jorge Bodanzky durante a ditadura brasileira’
Jorge Bodanzky nasceu em 1942 em São Paulo, filho de austríacos que vieram para o Brasil fugindo da perseguição nazista. Sua estreia como diretor de cinema foi em 1971, com o média-metragem Caminhos de Valderez, que conta com a codireção de Hermano Penna. No decorrer da carreira, realizou obras que contestavam a ideia de progresso pregada pelo governo militar, além de mostrar a realidade do país, sobretudo fora dos grandes centros urbanos.
O artista foi revolucionário no cinema brasileira ao filmar com poucos recursos: pequenas equipes e câmera em mãos, por exemplo. Trabalhava muitas vezes com atores não-profissionais, o que tornava suas obras — que exploravam as mazelas e contradições da sociedade — ainda mais autênticas. Esse seu estilo “despojado” de filmar permitia a Bodanzky passar despercebido pelos militares, em um período que a censura era constante.
Confira as obras em cartaz
A exposição no IMS apresenta ao público fotografias e projeções em super-8 do diretor, assim como os principais filmes de sua carreira. Como ‘Iracema: uma transa amazônica (1974)’, sua obra mais premiada, com codireção de Orlando Senna. O longa-metragem conta a história de uma jovem mulher indígena forçada à prostituição, e sua relação com um caminhoneiro gaúcho que vê na Transamazônica uma oportunidade de enriquecer.
A narrativa, que denuncia a exploração do projeto desenvolvimentista na Amazônia, foi filmada às escondidas para não chamar a atenção, com cenas improvisadas entre uma parada e outra da equipe de filmagens, que se locomovia por uma kombi. O filme fez grande sucesso internacional, no entanto, foi censurado no Brasil até 1981.
Do mesmo modo, entram ao acervo ‘Giritana’ (1975), sobre uma personagem forçada a abandonar sua terra por conta da construção de uma barragem, e ‘Jari’ (1979), documentário que denuncia a exploração da Floresta Amazônica. Juntamente com ‘Terceiro milênio’ (1980), um road movie em que o diretor viaja junto do senador Evandro Carreira (AM) durante sua campanha, expondo a distância entre o povo e o político.
Você pode conferir a programação completa de ‘Que país é este? A câmera de Jorge Bodanzky durante a ditadura brasileira, 1964-1985’ pelo site do IMS-SP, ou pelas redes sociais do Instituto.