A Agência Brasil preparou uma reportagem super bacana para celebrar o feriado nacional comemorado nesta terça, dia 7 de setembro, a Independência do Brasil. Você já sabe que a nossa cidade preserva a história do país em diversos pontos, como monumentos e prédios emblemáticos.
Desta vez, descubra os pontos da capital que contam um pouco deste episódio que mudou o rumo do Brasil em 1822.
“Independência ou Morte”
Foi às margens do riacho Ipiranga, há 199 anos, em um 7 de setembro como hoje, que Dom Pedro I declarou a independência do Brasil em relação a Portugal. O Brasil então se torna uma monarquia e Dom Pedro I passa a ser imperador.
Esse “grito” de independência, proclamado por Dom Pedro I na região do Ipiranga, onde hoje se encontra o Parque Independência, na capital paulista, foi retratado de forma idealizada na imensa pintura Independência ou Morte, de Pedro Américo, que faz parte do acervo do Museu Paulista, mais conhecido como o Museu do Ipiranga.
Ilustrada em diversos livros didáticos, a famosa pintura ajudou a criar o mito de que a Independência do país ocorreu de forma isolada, num único dia, com Dom Pedro I empunhando sua espada e gritando “Independência ou Morte” em cima de um cavalo, espada ao céu, cercado de soldados. Mas isso não ocorreu de forma tão rápida ou imediata como se imaginava.
Dom Pedro I estava em Santos, a caminho de São Paulo. E passou pela região do Ipiranga, que era o meio da travessia para o centro da capital. E foi ali que a declaração de separação foi anunciada. “Ele estava vindo de Santos. Estava fazendo uma viagem por São Paulo para tentar conseguir apoio político. Ele estava fazendo uma viagem para apaziguar os ânimos”, disse Natália Godinho da Silva, historiadora que trabalha no Núcleo de Formação e Desenvolvimento de Públicos do Museu da Cidade, em São Paulo.
Apaziguar os ânimos porque o Brasil, naquele momento, vivia uma crise, cheia de conflitos e revoltas. “É claro que, perto das independências latino-americanas, a brasileira fica bem discreta. Mas a gente tem uma ideia de que não houve guerra pela independência. E isso não é verdade. Bahia, Pará, Maranhão: tivemos diversas províncias que se rebelaram contra Portugal. Ainda que a gente não tenha tido uma guerra unificada, de modo geral, também não fomos tão pacíficos”, explicou.
A história da independência brasileira não é simples de ser explicada e não se encerra nos livros ou na pintura de Pedro Américo. Mas o entendimento sobre esse episódio pode ser ampliado quando se visitam alguns pontos turísticos das cidades de São Paulo, do Rio de Janeiro ou de Salvador. Todas essas cidades guardam objetos e memórias relativos a esse acontecimento histórico.
Em São Paulo, onde a independência foi declarada, diversos museus e monumentos ajudam a contar essa história e a entender que esse acontecimento foi um processo e não se encerrou no momento do grito. Conheça os lugares de São Paulo que nos ajudam a compreender um pouco mais sobre esse episódio da história brasileira:
Parque da Independência, no Ipiranga
“O melhor lugar para se pensar sobre esse evento é o Parque da Independência, ali no Ipiranga, que tem o edifício monumento, que é o famoso Museu Paulista [Museu do Ipiranga], que foi a primeira construção em celebração à independência. E ainda temos o Monumento à Independência, feito em 1922, para comemoração do centenário”, disse a historiadora Natália Godinho à Agência Brasil.
O Museu Paulista foi o primeiro edifício-monumento à independência criado nessa região como marco histórico. Depois vieram o Jardim Francês, o Monumento à Independência 9uma escultura em bronze e granito instalada próxima ao córrego do Ipiranga0, a Cripta Imperial e o próprio parque.
A ideia era que essa região, onde o parque está instalado, se transformasse em uma grande celebração nacional, um “altar da Pátria”, como definiu Marins.
Para chegar ao parque foi criada a Avenida Independência, hoje chamada de Dom Pedro I, que conecta a Avenida do Estado ao Parque. “Com isso, o Ipiranga vai se tornar uma espécie de eixo monumental que se assemelha ao eixo principal da cidade de Paris”, disse Paulo Garcez Marins, curador do Museu Paulista.
Museu Paulista
Mas a ideia de marcar o lugar para criar um memorial em homenagem a essa história não foi abandonada. E foi assim que surgiu, no Ipiranga, um primeiro monumento, um memorial, que mais tarde viria a se transformar no Museu Paulista, mais conhecido como Museu do Ipiranga.
Este monumento foi encomendado pela família real, assim como a pintura Independência ou Morte, de Pedro Américo.
Quando a pintura e o prédio foram então finalizados, ocorreu a proclamação da República no Brasil, em 1889.
Em 2013, esse museu foi fechado para restauração e ampliação. E será novamente reaberto ao público no próximo ano, quando se completa o bicentenário da independência, em 2022.
Para a reabertura, o museu está preparando uma exposição que pretende trabalhar a memória da Independência do Brasil, apresentando como ela foi lembrada em diversas situações, como na celebração dos seus 50 anos (em 1872), no centenário (em 1922), nos seus 150 anos (em 1972) e com o bicentenário.
Monumento à Independência
Feito em granito e bronze, o Monumento à Independência foi inaugurado em 1923 e, até então, era considerado o maior conjunto escultórico do Brasil. A obra é do escultor italiano Ettore Ximenes, que venceu um concurso público para a criação de um monumento em homenagem a esse evento histórico.
O monumento recebe muitas críticas porque não parece retratar a história dessa ruptura entre Brasil e Portugal. Algumas reclamações se referem ao fato de que ele teria sido pré-fabricado e já estaria pronto antes de o escultor ter vencido o concurso.
Com as críticas, Ximenes fez novas adaptações à obra. “Daí ele constrói dois conjuntos, um de cada lado, do monumento. De um lado, ele coloca a Inconfidência Mineira. E, do outro, ele coloca a Revolução Pernambucana de 1817, como movimentos precursores da Independência o que, hoje em dia, pela historiografia, é super questionável já que a Inconfidência Mineira não necessariamente estava buscando uma independência”, explicou.
As críticas ao monumento não param por aí. “O auge disso é que ele coloca a figura de um índio para representar o que seria o Brasil. Mas esse índio quase não tem destaque. E, além disso, esse índio é norte-americano. Não é um índio brasileiro. E, obviamente, não tem nenhuma figura negra e não tem nenhuma mulher. O que também é bem questionável. Ele poderia ter retratado alguma coisa da [Imperatriz] Leopoldina ou da Maria Quitéria, que foi uma mulher que lutou pela independência da Bahia”, contou Natália.
Cripta Imperial
No interior desse novo Monumento à Independência foi criada a Cripta Imperial. O primeiro corpo a ser guardado nessa cripta é o da Imperatriz Leopoldina, a primeira esposa de Dom Pedro I, que estava enterrada no Rio de Janeiro. “É importante falar que ela teve um papel político na independência muito importante. Ela articulou muito bem todo esse cenário da independência: ela estava no Rio de Janeiro fazendo política e aconselhando o próprio Dom Pedro”, explicou Natália.
Em 1972, chegam ao Brasil os restos mortais de Dom Pedro I, vindos de Portugal. Dez anos depois, chegam os restos mortais da Imperatriz Amélia, a segunda esposa de Dom Pedro I. “Eles trouxeram o corpo dela para ficar ao lado de Dom Pedro mais para atender a sua demanda, que queria ficar enterrada ao lado dele, mas não porque ela tenha participado do processo [de Independência]”, disse Natália.
Quadro Independência ou Morte
Encomendado pela família imperial, o quadro Independência ou Morte é parte do acervo do Museu Paulista. A pintura é de Pedro Américo e foi inaugurada em 1888, em Florença, momento em que foi apresentada a Dom Pedro II, filho de Dom Pedro I.
Na tela, Dom Pedro I é retratado montado em um cavalo, mas hoje se sabe que, na verdade, ele estava montado em uma mula, que era o transporte utilizado para subir a Serra do Mar. Isso, no entanto, não foi um erro cometido pelo pintor, mas uma tentativa de transformar o episódio em algo memorável, uma característica da pintura histórica praticada na época.
“O compromisso dos pintores de história não era com a visão realista de como aconteceu o episódio, mas sempre de como ele deve ser lembrado”, explica Marins, durante a entrevista à Agência Brasil.
Casa do Grito
A Casa do Grito recebeu esse nome porque teria sido retratada na tela de Pedro Américo. Mas não há qualquer documento que comprove que ela estava erguida quando Dom Pedro I teria declarado a independência do Brasil.
Até por volta de 1920, a Casa do Grito era uma residência. Mais tarde ela foi comprada pelo Poder Público e transformada no Museu do Tropeiro.
“Esse nome, Casa do Grito, reforça a ideia de que ali teria sido a casa do grito, que aquela casa seria a mesma do quadro ou o que a gente escuta muito, que Dom Pedro teria dormido ali para seguir viagem. Mas nada disso é verdade. A gente não tem nenhuma documentação que possa comprovar tudo isso. O que a gente sabe é que, provavelmente, ele não passou por ali”, disse a historiadora.
A Casa do Grito tem grande relevância turística porque é um dos últimos exemplares da cidade de São Paulo de uma construção de pau a pique.
Solar da Marquesa
O Solar da Marquesa, no centro da capital, não tem qualquer relação com o cenário da Independência. Mas foi ali que viveu uma das amantes mais conhecidas de Dom Pedro I: a Marquesa de Santos. E eles se conheceram nessa viagem que Dom Pedro I fazia entre Santos e São Paulo, quando ele declarou a independência. Após conhecê-lo, ela se muda para o Rio de Janeiro, onde ficava a Corte.
Quando a primeira esposa de Dom Pedro I morre, há uma grande comoção na corte e o imperador do Brasil, sem uma situação favorável, decide abandonar a Marquesa, após sete anos juntos.
Depois disso, já em 1834, ela volta a morar em São Paulo, no local hoje chamado de Solar da Marquesa. Nesse ano, Dom Pedro já havia falecido. Ele nunca pisou nesse local.